Cenas de um internamento – Parte III

A 1ª lição

Aguardo junto à zona das consultas, para que me chamem, para o piso do internamento. Valeu-me o livro que levei, estava tudo um pouco caótico, e o entretenimento providenciado por um discurso muito polite e british de um funcionário do hospital, para um paciente estrangeiro, sobre seguros de saúde e seguradoras e o que no caso dele cobriam ou não cobriam,  que decorria ali mesmo à minha beira.
Entretanto, já com um cateter no braço, as enfermeiras não perdem tempo, continuo a aguardar que me chamem.
Passa por mim, pé ligeiro, uma auxiliar, empurrando uma cadeira de rodas, e chama alto e bom som o meu nome.
Dirijo-me a ela e ela, com um sorriso, olhando para a cadeira, diz “Vamos?” e eu olho para ela, olho para a cadeira e digo “Não posso ir pelo meu pé? Estou bem, não é necessário!”. Ela sorrindo, pacientemente, com quem já ouviu aquilo milhentas vezes, esclarece-me “Não pode ser. Agora a senhora é responsabilidade do hospital. Imagine que cai e se magoa…”. Sento-me resignada na cadeira. Restou-me apenas dizer “Ok, vamos lá então. Não fazia ideia! Então não posso andar pelo hospital pelo meu pé e de minha livre vontade?”, diz-me ela, entre risos, “Claro que pode! Mas nunca em deslocações “oficiais”, para ir fazer exames, etc, é a política do hospital.”
Fiquei pensando cá para comigo, “Hummmm… parece-me que isto vai ser mais díficil do que imaginava! Desprovida, oficialmente, do poder de locumução logo no 1º embate.”

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