Cumprimentos

Ao responder ao mail informal, do coordenador do secretariado, solicitando que gerasse as passwords para a fase de testagem das provas de aferição, despedi-me com “Um beijinho e boa sorte com as testagens” e, por baixo, o meu nome e do meu colega que já é avô.
“Um beijinho? Um beijinho? Nahhhh, não vais mandar isso assim.” diz-me o meu colega que já é avô, franzindo o sobrolho.
“Então como queres que ponha?” pergunto divertida.
“Cumprimentos?” sugere o meu colega que já que já é avô.
“Cumprimentos? Cumprimentos? Conheço o João há km de anos, não vou escrever cumprimentos. No mail que me mandou, ele despede-se com beijinhos (para mim, é certo)” respondo entre o riso e o espanto.
“Saudações… leoninas!” propõe o meu colega que já é avô.
“Aí, cala-te, sabes bem que ele é do Benfica!” observei.
“Então pões só saudações!” sugere, sorrindo, o meu colega.
” Eh pá, só saudações vai na linha dos cumprimentos. E se for um beijinho e um abraço? Um beijinho meu e um abraço teu?” acrescento.
“Nahhhh, nada de beijinhos!” remata o meu colega.
“Pode ser um abraço?” pergunto já meio exasperada
“Hummm…. preferia cumprimentos  ou saudações mas está bem manda lá um abraço ao nosso Johnny!” diz-me o meu colega dando de ombros.
Mais tarde reencaminhei, ao meu colega que já é avô, a resposta do João  e escrevi apenas “Com que então cumprimentos ou saudações?” e a resposta do João dizia o seguinte:

«Grande equipa! Não há passwords que vos parem!
Obrigado!
Um abraço,
João»

No dia seguinte, encontrei os dois à conversa, o João e o meu colega avô, tratei logo de fazer queixinhas contar esta nossa troca de galhardetes sobre cumprimento e saudações, rimo-nos todos um bom bocado e não resisti a rematar com:
“João recebe pessoalmente o meu beijinho, o tal que ele não me deixou enviar, e acho que ele também tem qualquer coisa para te dar!” disse apontando para o meu colega que já é avô.
“Eu, eu? Estás a brincar o quê?” responde-me, indignado e dando 3 ou 4 passos atrás, o meu colega que já é avô.
“Always… entre abraços e beijinhos!” respondi, perdida de riso.
“Isso é que vai para aí uma animação logo pela manhã” dizem alguns colegas ao passar por nós
Mais um intervalo divertido e cheio de gargalhadas, do melhor que a escola tem.

Beleza no imperfeito

“Aquilino [Ribeiro] não se surpreendeu e contou-lhe um segredo, «Também eu escrevo com erros, por isso tenho um revisor particular a quem dou os meus livros, antes de serem editados. O erro não se prende com a criatividade.» Durante muito tempo, Teresa considerou a perfeição dessa frase: o erro não se prende com a criatividade. Foi uma lição e uma admissão de beleza no imperfeito.”

Patrícia Reis in “A desobediente – Biografia de Maria Teresa Horta” – um livro muito interessante e que merece muito, mas mesmo muito, ser lido. Adorei!

Óscares

“Estou a pensar dar-lhe aquelas troféus que dizem melhor namorado. O que achas?” diz-me pequeno do meio no dia dos namorados logo pela manhã.
“Como assim a dizer melhor namorado?” questiono intrigada, pensando que não devo ter percebido bem.
“O que foi? Não achas boa ideia?” diz-me, torcendo o nariz, pequeno do meio.
“Ouve lá meu rapaz, está a ver a coisa ao contrário, tu ofereces-lhe, a ela, a taça de melhor namorada! Certo?” esclareci, meio estarrecida.
“Hummm… o quê? Bem, isso é tudo igual, eu depois logo vejo, mas achas bem?!” insiste o moço.
“Um não, o outro, não vejo porque não !” rematei.

A conversa ficou por aqui e o rapaz foi aviar-se às lojas do momento. Não sei se comprou algum troféu e, se sim, qual escolheu.
“Olha o que a B. me ofereceu!” diz-me, nesse dia à tarde, com um sorriso matreiro pequeno do meio com a sua B. ao lado.
“Muito giro!” respondi automaticamente ainda antes de ter observado com atenção o que era.
Tive que me conter para não me desmanchar a rir quando atentei na oferenda: uma t-shirt que dizia “I love my girlfriend (como uma fotografia da B. dentro do coração)”
“É, não é?!” diz-me pequeno do meio, piscando-me o olho.
Pensei para comigo “Estão bem um para o outro – os dois autocentrados e cheios de amor próprio!” ou então é a nova moda.
Não me lembro da última vez que tínhamos ido ao cinema sem a pequenada, mas naquele dia as coisas alinharam-se e fomos os dois, eu e Excelentíssimo Esposo, ver o filme “Vidas passadas”. Um filme sul coreano do qual tinha lido excelentes críticas e nomeado para vários prémios, nomeadamente os óscares.
É um filme bonito, calmo, simples, cheio de silêncios que dizem tudo, nostálgico, sem um final feliz nem infeliz, a vida tal e qual como ela é. Um filme introspetivo sobre as opções determinantes que tomamos em vários momentos da nossa vida: se há 20 anos, se há 10 anos em vez de ter escolhido o caminho A tivesse escolhido B como seria eu, como seríamos nós, como seria a nossa vida. É um filme sobre os “ses” da vida, pequenos nadas que às vezes definem tudo e/ou o todo, neste caso em relação a dois grandes amigos de infância separados pela emigração dos pais e o(s) seu(s) reencontro(s) vários anos mais tarde.
Reencontros, numa vida sempre em mudança, que nos confrontam ou procuram reconciliar com o que fomos, o que somos e o que gostaríamos de ter sido, e aquela vontade do voltar atrás, a um tempo em que tudo era mais simples e a constatação e aceitação que tudo tem o seu tempo e o seu momento e que, às vezes, conhecemos a pessoa certa na altura errada. Um grande filme, sem o glamour, o drama e ação nem a banda sonora de Hollywood, mas com o qual nos identificamos. Bonito, profundo!

Assim que saí da sala de cinema liguei a pequeno do meio para lhe dizer “Não vás ver este filme, não vais gostar!” – uma ida ao cinema estava incluída nos seus seus planos para o dia dos namorados e como me tinha ouvido falar deste filme, disse que também o ia ver.
“Já comprei os bilhetes. Começa daqui a 20 minutos!” diz-me pequeno do meio.
“Então, resta-me dizer-te enjoy the ride… slowly!” colmatei.
“Filme podre, não acontecia nada” diz-me pequeno do meio ao chegar.
“Sem grande ação nem glamour, sem berros, sem beijos, sem tiros nem velocidades furiosas, mas onde acontece tudo! É um filme para quem já passou por várias fases na vida adulta e contempla os “ses” dos passado, do presente e do futuro e percebe que, às vezes, é preciso aceitar e deixar fluir! Claramente ainda não é o teu caso… nem género de filme!” observei.
“Deve ser por isso que a sala do cinema estava cheia de velhos!” rematou pequeno do meio.
“Velhos, não…  pessoas repletos de vidas passadas!” rematei
“Ahahahahah, és tão engraçada!” remata irónico pequeno do meio.

Gelatinas

“Tenho que ir aqui ao supermercado!” disse, a caminho de casa, à conversa com um colega, entre fotografias e histórias do seu neto.
“O que precisas?” pergunta-me curioso.
“Vou comprar gelatina!” esclareci.
“Gelatina?” questiona-me ele.
“Sim, vou almoçar a casa de uma amiga e fiquei de levar a sobremesa!” esclareci divertida.
“E vais levar gelatina?” diz-me ele estarrecido.
“Ou algo com gelatina!” acrescentei divertida com o seu ar desconfiado.
“Aí mas não vamos a este supermercado, olha bem a fila para pagar. Anda, vamos ao outro que é já ali e tem caixas self service. Eu explico-te com funciona.
Contive o riso e pensei “E eu que só queria despachar-me e comprar gelatina.”, mas há malta que habituada a tratar dos seus filhos e netos, rapidamente se entusiasma e nos junta aos seus!
Chegados ao supermercado, levou-me orgulhoso, como se eu nunca tivesse estado no supermercado nem tivesse 3 filhos, até às gelatinas individuais e prontas a consumir. Decidi aproveitar a divertida experiência e disse “Não é destas, é das para fazer!”
“Mas tu vais mesmo levar gelatina para a casa da tua amiga?” diz-me ele incrédulo, com quem diz, com tanta coisa boa, escolheste gelatina.
Chegados à caixa self service e sem filas, pago as gelatinas recorrendo ao MBWAY.
“Nunca utilizei, não sabia que se fazia assim! Para a próxima já sei como fazer. Olha lá mas vais mesmo fazer gelatinas?” diz-me, pensativo, o meu colega.
“Claro que sim!” sorri divertida.
Abanou-me a cabeça com quem diz “Esta malta “nova” está perdida!”. Nova no sentido que sou bem mais nova que ele, estando ali a meio caminho entre a idade dos seus filhos e a dele.
“Tenho que tirar uma fotografia e enviar ao meu colega. Ele estava mesmo preocupado com a história das gelatinas! ” disse, entre risos,  à minha amiga durante o almoço, contando-lhe a história.
“Vais é fazer-lhe pirraça. Tu és terrível!” rematou a minha amiga.

Comentário típico de um sportinguista ferrenho e que, curiosamente, poucos dias depois viu o seu clube de coração ser campeão. Já me pediu a receita, desconfio que a vai fazer em forma de coração verde para celebrar.

Dia da Mãe

“Mother is the name for God in the lips and hearts of little children.”
William Makepeace Thackeray.

Um frase poderosa e bonita, os filhos serão sempre crianças aos olhos das suas mães, as mães não serão sempre Deus aos olhos dos seus filhos, mas, ainda  assim, todos os dias são dias da mãe!

Para não variar, comecei o dia da mãe, na ótica da pequenada, a falhar, desta vez porque não respeitei o seu horário/agenda! Nada de novo, uma mãe sente-se a falhar desde o 1º segundo que eles respiram e aprende a viver com isso e eles também!
“Tens aí uns bons dizeres!” diz.-me a minha mãe lendo o postal da pequenada.
“Um cacto porque tenho picos?” questionei.
“És mesmo parva! Não, porque é colorido com tu!” diz pimpolha mais nova.
“Fora os dramas que a vida chama!” dizia a minha nova caneca. “Grande frase! Os vossos dramas, certo?” perguntei.
“Hummm… pode ser!” diz pimpolha mais velha, a drama queen cá de casa.

Vejam lá se adivinham quem escreveu o quê?

Num grupo do whatsapp que tenho com algumas amigas, depois dos tradicionais desejos de feliz dia da mãe, não resisti a:

Às vezes, no calor do momento, os papéis e os nomes confundem-se.
No final de uma visita de estudo, num dia quente como o demónio, fui com alguns alunos comer um gelado.
Depois de nos deliciarmos, ficámos todos literalmente lambuzados.
Partilhei algumas toalhitas que trago sempre na mala.
“Ohhhh… a professora é mesmo querida, até nos dá toalhitas!” diz um aluno espanatdo.
“A professora é MÃE!” rematou uma das miúdas.
Fez-se silêncio e ninguém acrescentou mais nada. Estava tudo dito.
Ser MÃE é isso, não é preciso dizer nem acrescentar nada, é estar e ser de coração e corpo inteiro!

“Certa vez perguntaram a uma mãe qual era seu filho preferido, aquele que ela mais amava.
E ela, deixando entrever um sorriso, respondeu:
“Nada é mais volúvel que um coração de mãe.
E, como mãe, lhe respondo: o filho predileto,
aquele a quem me dedico de corpo e alma…
É o meu filho doente, até que sare.
O que partiu, até que volte.
O que está cansado, até que descanse.
O que está com fome, até que se alimente.
O que está com sede, até que beba.
que está estudando, até que aprenda.
O que está nu, até que se vista.
O que não trabalha, até que se empregue.
O que namora, até que se case.
O que casa, até que conviva.
O que é pai, até que os crie.
O que prometeu, até que se cumpra.
O que deve, até que pague.
O que chora, até que cale.
E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou:
O que já me deixou…
…até que o reencontre…”
 Erma Bombeck

Maioria

Passa o tempo no quarto de phones nos ouvidos, quando se lhe pede que os retire para podermos conversar, o som que emanam preenche o espaço tal não é volume, quase que fico surda (e cega mas nunca muda). Não adianta chamar à porta do quarto, tem que ser mesmo em cima do ouvido, tal não é a alienação e/ou o volume. A interrupção nunca é bem aceite e começa sempre com um contrariado “O que é que queres?”. Os reparos sobre o nível do volume e os avisos de surdez não são bem recebidos, porque nós não percebemos, não compreendemos e não sabemos nada, minto, há uma coisa que sabemos – chatear. Observações como “Se alguém cair para o lado cá em casa, ela nem nota!” são respondidas com um indiferente “Mas isso por acaso é um problema meu?”.
As amigas são a sua prioridade, as indumentárias, os penteados e os cremes uma preocupação, comprar roupa o seu deleite, o (meu) telemóvel a sua religião.
Nunca quer ir a lado nenhum, por ela ficava sempre no seu casulo pois tem sempre muito que fazer, contrariando, esperneia e reclama com vontade, alto e bom som que nós somos os piores pais do mundo, aliás essa é a sua desculpa preferida para tudo o que não lhe apetece fazer.
É a mais gulosa dos três, faz bolos de caneca dia sim,  dia sim, se lhe permitirem e come, num ápice, as bolachas e doces dos seu agrado e que apanha para grande desespero e revolta dos seus irmãos.
Deixa coisas espalhadas por toda a casa e quando a mandamos arrumar exclama “Mas qual é que é o vosso problema?”
Protela até à exaustão a hora de se deitar, de cortar as unhas e de fazer ou arrumar o que quer que lhe seja pedido. São mais as vezes que não utiliza o aparelho do que as que usa.
Chegou e bateu forte a adolescência em pimpolha mais nova. Deixei de ser a rainha, e ela a princesa do nosso reino, e passei a ser a bruxa má cheia de (ver)rugas que só tem para lhe oferecer cestos repletos de maçãs envenenadas (“Também tu, Brutus?”).
Pimpolha mais nova continua um doce, eu é que devo ter entrado na fase “sugar free ” (sem querer nem me aperceber)!
É oficial, os adolescentes estão em maioria cá em casa. Gente sorridente, simpática e bem humorada esta que habita aqui por casa, que sabe muito de tudo um pouco, nunca se engana e raramente tem dúvidas! Always a pleasure to be around!

Liberdade

“As pessoas agora queixam-se que não têm dinheiro. Ahhh, no tempo da ditadura, aí é que não havia dinheirinho para ninguém.  Ainda me lembro de, na véspera de Natal, estar à espera que o avô chegasse para, com o pouco dinheiro que trazia, ir à mercearia, ao fundo da calçada, comprar qualquer coisa melhor para a ceia, não era muito melhor que o dinheiro era sempre “escarsso” . Os presentes eram roupa que eu fazia com aproveitamento de tecidos. Não há miséria e míngua com a daquele tempo, mas ninguém dizia nada, bico fechado, se não já sabíamos o que acontecia, toda a gente sabia! Agora, todos se queixam por tudo e por nada, mas antes assim! Em comparação, há fartura e muito dinheiro, mesmo para quem vive mal. Tudo se criou, tudo se fez, mas foram tempos muito difíceis”. Um pequeno excerto do que a minha avó materna e analfabeta recorda do longo período da ditadura, sem qualquer saudade e alguma mágoa/ressentimento.

O meu pai ainda hoje, passados tantos anos, quando se refere a determinadas pessoas acrescenta “Esse, esse diziam que era informante da PIDE”.
Um sardinha para três e, e a fominha…, um quarto para 3 ou ou 4, a longa caminhada até à escola – as aventuras, o companheirismo, o frio e todo o trabalho (não escolar) que havia ainda para fazer no regresso. Na escola, rapazes num edifício e meninas noutro, nada de misturas. Com o ensino primário concluído, como na escola, os destinos divergiam, apesar das suas capacidades e/ou do incentivo para o prosseguimento de estudo por parte do professor, as raparigas, geralmente, seguiam as pisadas dos pais no trabalho no campo ou algum outro trabalho que o seu pai lhe destinasse até casarem, os rapazes esperava-os o campo ou aprender um ofício, a alguns abriam-se outras portas quando tinham a hipótese, por indicação do padre da aldeia,  de prosseguir estudos no seminário (a escola dos pobres como lhe chama o meu pai), e sim, há que agradecer à Igreja essa oportunidade de um futuro melhor que proporcionou a muitos rapazes daqueles tempos (há gente boa em todo o lado, apesar de haverem uns quantos que a mancham,  são uma minoria (que vale por muitos, bem sei). Esta era o retrato abreviado da minha família paterna e acredito que de muitos nos tempos da ditadura. As filhas da minha avó concluíram o ensino primário e não mais “porque na vila só havia o ensino primário, porque não havia dinheiro, porque era assim, as raparigas não estudavam fora do lar mesmo que tivessem uma boa cabeça” e os filhos com cursos superiores (os mais velhos via seminário, o mais novo já usufrui do “projeto”  ensino público do pós 25 de abril). Ainda hoje vislumbro, a tristeza e a injustiça espelhada no olhar do meu pai, num lamento que não esconde, e que de certa forma o incomoda, por as irmãs não terem tido a sua oportunidade de prosseguir estudos.
A minha mãe teve a sorte de a sua tia e madrinha viver na capital e a ter acolhido, naqueles tempo difíceis, na sua casa para que pudesse continuar os estudos, mais um boca para alimentar,  uma benção, numa altura em que todos tinham muito pouco mas o espiríto das família era, muitas vezes, altruísta. Apanhava o autocarro bem cedo, saía no Terreiro do Paço e subia a pé ao Largo Camões, chegava sempre antes da hora, o instituto só abria as portas às 9h00, esperava sentada ao fundo de umas das muitas igrejas da Baixa, ia variando. No dia 25 de abril 1974, a a minha mãe passou pelo tanques “do” Salgueiro Maia no Terreiro do Paço. Não estranhou, seguiu o seu caminho habitual, um papel afixado na porta do Instituto informava que naquele dia não haveria aulas, estranhou mas não desconfiou de nada. Fez o caminho inverso e quando chegou a casa da tia, esta estava a morrer de preocupação, tinha ouvido na rádio o que se passava e sabia da proximidade do Instituto. “Se eu fosse uma pessoa curiosa e tivesse ido espreitar à António Maria Cardoso (rua da PIDE), se calhar hoje não estava cá para contar a história ou a história seria outra”.
Avó materna e avô paterno analfabetos, avó paterna e avô materno com a 4ª classe, oriundos do meios rural, os meus pais licenciados (e os primeiros das suas famílias).


Do gira disco dos meus pais, desde que me conheço como gente, ouvia os acordes e vozes de: Zeca Afonso, Fausto, Brigada Victor Jara, Rão Kyao, Janita Salomé, José Barata-Moura, Sérgio Godinho, Luís Represas e tantos outros, e, na inocência da infância, considerando a liberdade um dado adquirido (a minha e a dos outros), sem dar significado às suas letras, ficava-me pela sonoridade e entoação.
As músicas, as histórias, as memórias e a vida mostraram-me a “sorte” que tive de ser “filha” desta madrugada, ensinaram-me a valorizar a liberdade conquistada e e a importância da democracia que fomos construindo, por muito imperfeita que ela seja.
Por saber a diferença que fazem a quem nada tem e a pouco aspira, serei sempre uma defensora da escola pública e do sistema nacional de saúde de qualidade e a que todos possam ter acesso, de um estado com verdadeiras políticas sociais e que respeite e aceite os direitos individuais arduamente conquistados ao longo dos últimos 50 anos, sem dúvidas nem abertura para retrocessos. “A democracia não se abate, direitos adquiridos não se debate” como dizia um pequeno no desfile.
O 25 de abril de 1974 trouxe a liberdade de expressão, de sonhar e permitiu, nos anos vindouros, com erros e acertos no passo, a construção de um estado social, com muito defeitos é certo, mas incomparável e infinitamente melhor que o anterior.
Leio os livros que entendo, voto em quem quiser num leque de muitos partidos, bebo coca cola, joguei às cartas no comboio, viajei para o estrangeiro sem autorização, participo em ajuntamentos de mais de 3 pessoas quase diariamente, vou ao teatro sempre que posso, faço greve, vou a manifestações, ouço horas e horas de músicas da Garota Não, tenho um blogue onde debito o que bem me apetece, refilo forte e feio sempre que considero que se justifica (independentemente do sítio – em casa, na escola ou na rua), nada disto me seria permitido antes do 25 de abril.


Nasci e vivi em liberdade, embora tenha, como todos nós, encontrado, ao longo da minha vida profissional, algumas “ditadores” e “lápis azuis”, (de)batemos de frente, aprendi com os experientes que há batalhas que o melhor é deixar a marinar, com os destemidos verifiquei que há muitas que vale a pena travar, olhos nos olhos, sem pestanejar, munida de informação e conhecimento, é o segredo para enfrentar, sem medos, um “ditador”, aplicar a técnica do lápis azul invertido tem uma eficiência surpreendente  – “Onde está isso escrito/previsto? Podes colocar a “ordem” por escrito?” -, ganhou-me o rancor de alguns e o respeito de outros  – “Tu és um osso duro de roer. Na guerra, gostava de te ter do e ao meu lado!”. Por sua vez, na ótica da pequenada, eu sou a ditadora impiedosa da sua vida… Resumindo todos nós temos uma faceta de ditador dentro de nós, e às vezes precisamos que nos digam «menos, sff», mas, com o 25 de abril, conquistámos um poder, às vezes dever, interventivo que não devemos ignorar, embora se deva escolher criteriosamente quando e como o utilizar. Devemos, no mínimo, o reconhecimento e o respeito a quem lutou para nos proporcionar esta grande conquista, não teria nem um milésimo da sua coragem e abnegação (bastou-me visitar o museu do Aljube ou do Forte de Peniche).
A nossa liberdade e democracia imperfeita são bens essenciais e frágeis, é preciso estimá-los, regá-los para que não sejam apenas experimentais e nunca devemos subestimar quem os ameaça. A memória e a partilha de histórias e da História devem estar sempre presentes para que os mais novos saibam como era viver sem Liberdade e para que nunca se vejam privados dela!

“Vamos descer, com os miúdos, a avenida no 25 de abril?” desafiou-me uma amiga, “Por essa estrada amigo vem… e traz outro amigo também”.
“Realmente, já tenho saudades de descer a avenida. Vamos embora!” disse cheia de contente.
“Isso é preciso levar algum bandeira ou cartaz de um sindicato?” diz-me, pouco convencido e provocador, Excelentíssimo Esposo que é pouco dado a estas manifestações populares.
“É, nestes momentos, que eu acho que este casamento foi um erro!” observa, entre risos, pimpolha mais velha.
“É só ir  e estar!” rematei.
Oficialmente, não foi avançado o número de pessoas que desfilaram avenida abaixo no 25 de abril, embora uma análise de uma consultora indique que forram 219 000.  Não me parece (ver o comentário na notícia do Jorge Palma, aquela sim é uma forma rigorosa de fazer uma estimativa). Apraz-me dizer que estavam muito, mas muito mais gente do que nas manifestações de prof em que oficialmente se estimou em mais de 100 mil pessoas. Diria, estimando por baixo, que estavam 5 a 6 vezes mais pessoas, ou seja, seguramente mais de meio milhão de pessoas e acho que eram bem mais.
Muitas famílias com carrinhos de bebés, muito gente nova e menos nova, muitos cravos à lapela e no ar.
Foi a primeira vez que desci a avenida no 25 de abril e emociona aquele oceano de gente da direita à esquerda, aquela alegria e energia de um sentimento de pertença “Cá estaremos, juntos, para o que der e vier! Dizemos presente”.
Não foi a comemoração dos 50 anos que motivaram tamanha multidão, creio que foram os declarados 50 cheganos no parlamento e  outros que, seguindo-lhes o mote mas mais polidamente, começam a perder a vergonha e a sair de debaixo das pedras (sim, de várias zonas da direita parlamentar).
“Não sei esta música!” diz-me pequeno do meio quando se ouvem os primeiro acorde da Grândola, Vila morena.
“Olha, vê, escuta, regista! Para o ano já cantas como gente crescida!” disse-lhe.
Não foi preciso esperar uma ano, já sabe de cor, tem ouvido no seu spotify.
“Foi desta que aniquilámos o chegano que há em ti! Só por isso já valeu a pena!” observei para o moço quando o ouvi a cantar aqui por casa a Grândola.
“Tens cá uma piada, tu!” fulminou-me o moço com o seu sorriso matreiro à espreita.
“Isto não é para ir à conversa é para ir a entoar!” diz-nos um senhora séria e de uma certa idade a aguardar na lateral da avenida aguardando para se juntar ao desfile, no seu grupo ou no grupo certo.
“Ainda bem que a liberdade de escolher ir à conversa no desfile veio de mão dada com a tolerância… e não só!” disse a pequeno do meio.
“Só tu para dizeres uma coisa dessa!!!” atira-me pequeno do meio.
Tantos abraços e reencontros naquele oceano de gente.
Foi bonita a festa pá!

No regresso a casa diz-me pimpolha mais velha, “Foi giro. Já me inspirei e para o ano, já sei o que vou trazer!”.
Não foi um desfile político de esquerda, como alguns político e comentadores se apressaram a dizer, de direita nunca seria, que esses (os parlamentares) não sabem com lidar, e não disfarçam, com o conceito do 25 de abril, e, em particular, das suas comemorações populares, onde nunca marcaram presença com exceção da Iniciativa Liberal (IL) e a JSD (este ano pela 1ª vez).


Foi uma festa de um povo que vota e (re)age livremente da esquerda à direita, ponto!
Provocadora e triste a postura da IL, a fechar o desfile, de cravos branco na lapela, “Branco mais branco não há”, e a vociferar  “25 de abril sempre, comunismo nunca mais!”. Nunca tivemos um governo comunista, o PCP está quase em vias de extinção em Portugal e na luta pela conquista da famosa liberdade de expressão que os liberais evocam para gritar e justificar a sua máxima, muito se deve, nos anos de ditadura, à oposição e ação de muito militantes do PCP (e nenhum de direita que me recorde), não obstante do papel que possam ter tentado assumir nos anos quentes de 1974/75 e que nos poderiam ter conduzido a outro tipo de ditadura (como as de leste e onde podemos encontrar museus semelhantes ao nosso do Aljube), nunca se concretizou, felizmente. Um provocação sem justificação, de uma falta de respeito e de nível a destoar do tom e palavras de ordem pacíficas do desfile! Há muito que acho que só o polimento e/ou o verniz, e por vezes nem isso, os diferencia do Chega!
Nas cerimónias oficiais, Aguiar Branco parece ter perfil para vir a ser um grande presidente da Assembleia da República, um bom discurso e postura assertiva face às comemorações do 25 de abril, um brilhante discurso de Rui Tavares e de realçar também o discurso da deputada do PSD (estava tudo lá, com exceção do sentimento – aquele do verdadeiro, a moça é nova nas lides, ainda anão domina a arte do engodo ou pode ter sido por se ter esquecido do cravo na lapela, não estava imbuída do espírito da coisa, como toda a bancada do PSD, eheheh ), Rui Rocha cravo branco na lapela e gaivota de ou no pensamento, muito, muito infeliz, os outro foi mais do mesmo, sem surpresas, todos no seu estilo habitual.
Viva a Liberdade e que sejamos sempre muitos, muitos mil para continuar Abril!


Desculpem lá isto da liberdade. Pode ser que não dure muito mais

“Há poucos meses, num programa televisivo dedicado ao tema da liberdade, um dos participantes começou a sua intervenção dizendo que era importante não esquecer que a liberdade deve ser limitada. Era, se bem me lembro, um jovem. Com aquela ousadia da juventude, a primeira coisa que lhe ocorreu dizer sobre a liberdade foi que era preciso ter cuidado com ela. É pena que Paul Éluard, naquele célebre poema sobre a liberdade, não tenha reflectido sobre esse problema específico. Entreteve-se a dizer que tinha nascido para a conhecer, e para a nomear — e com isso provavelmente esqueceu-se da importância de a limitar. Também seriam versos bonitos: Je suis né pour te limiter. Talvez o poeta pudesse mesmo ter vertido para francês a frase, tão popular, “a minha liberdade acaba onde a dos outros começa”. É uma frase curiosa porque, fingindo ser sensata, costuma ser usada para justificar vários atropelos à liberdade. Normalmente, quem a profere não está mesmo a falar dos limites da sua liberdade. A formulação “a minha liberdade acaba” faz parte do logro. É sempre da liberdade dos outros que se trata. E de direitos nossos (na maior parte das vezes, imaginários) que não deviam ser beliscados pela liberdade dos outros. Por exemplo: ao que parece, a família tradicional está sob ataque. Eu, que pertenço a uma, não dei por nada — provavelmente por inconsciência. Mas pessoas mais perspicazes do que eu avisam-me de que o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto e a eutanásia me estão a prejudicar. São liberdades alheias que deviam terminar onde a minha começa. Desconheço o limite geográfico da minha liberdade, mas é evidente que, se o Luís e o Mário exercerem a sua liberdade de contrair matrimónio, estarão a invadir a minha. Talvez o meu casamento fique mesmo sem efeito. Hei-de ir ao notário verificar.

É quase milagroso que o 25 de Abril celebre 50 anos, dado o reduzido número de apreciadores da liberdade. Somos tão poucos que às vezes parece que estamos a impor abusivamente a nossa vontade aos outros. Pela minha parte, peço desculpa. Sou sensível aos vossos argumentos, que conheço bem até porque os ouvi repetidamente nos últimos 50 anos: ao menos havia respeito; a gente podia andar sozinha na rua à noite; uma coisa é liberdade, outra é libertinagem. São argumentos um pouco contraditórios. Sempre achei um pouco suspeita a atracção que pessoas tão respeitáveis tinham pela actividade de andar na rua à noite. E concordo que liberdade e libertinagem são coisas diferentes, mas creio que se pode ser apreciador de ambas, como é o meu caso. Aliás, a libertinagem tem, sobre a liberdade, uma vantagem importante: é que a minha libertinagem não acaba onde a libertinagem dos outros começa. Antes pelo contrário.”
Ricardo Araújo Pereira in Expresso

Maior

Pimpolha mais nova e pequeno do meio, de t-shirt, refastelados no sofá, no final de um dia com muitos quilómetros percorridos, de um frio e ventos gélidos e bonitas paisagens na terra do fogo e do gelo, com direito a uma  gincana, com neve até aos joelhos, para chegar à porta do nosso alojamento… mais um dia de viagem cheio de emoções e vivências!
Em cima da mesa, um pacote de bolachas aberto, há poucos minutos, mas onde resta apenas uma bolacha. “Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada!”
Sorrio, sinto-me um pouco com uma última bolacha do pacote… esborrachada pelo que vislumbro da janela – o branco que nos rodeia das montanhas ao mar.
Pego no pacote para me deliciar não só com a envolvência mas também com a última bolacha do pacote.
Pequeno do meio e pimpolha mais nova contém a respiração, olham-me como se estivesse a cometer um enorme sacrilégio e com uma ponta de medo.
“O que foi?” pergunto intrigada.
“Essa bolacha é da mana!” diz pequeno do meio.
“Yeah, é mesmo. Nós dividimos as bolachas entre nós os 3!” diz-me com um ar apreensivo pimpolha mais nova.
“O respeitinho é muito bonito e bom de ver! Quase que ficaram sem ar…tal não foi o pânico” observei, rindo, enquanto colocava a bolacha novamente no pacote, o seu a seu dono.
“Até parece que não sabes como é que ela é! Armava logo um barraco quando aqui chegasse e não encontrasse a sua bolacha” diz-me pequeno do meio.
A mais acutilante dos três, não perdoa qualquer falha e/ou disrupção nos seus planos. Reclama até à exaustão com tudo e todos, atira em todas as direções, quando isso acontece, seja por uma bolacha ou algo mais arrojado, é implacável, eloquente e termina normalmente em choro, desconfio que para aliviar a raiva/frustração. Os manos evitam a todo o custo as suas explosões. Eu (sobre)vivo de explosão em explosão porque tenho esta mania, que ela considera ousadia, de, imagine-se, nem sempre concordar com os seus planos bem delineados, o que termina com o seu típico  “Tu só me estragas a vida!”. Dos três, é talvez a mais parecida comigo, não me escapa a ironia de provar do próprio veneno! Divergimos na faceta social – eu gosto de pessoas em geral, ela gosta das SUAS pessoas em particular.
Há guerras que não vale a pena comprar e vidas que não queremos estragar, nomeadamente por causa da última bolacha do pacote, por muito boa que ela seja.
Pimpolha mais velha senta-se ao meu lado no sofá, fresca e fofa depois de um longo banho, relato-lhe o “medo” dos seus manos do ataque do monstro das bolachas (eu). Ela brinda-me com aquele seu sorriso matreiro e irónico como quem me diz orgulhosamente “Eu eduquei-os bem!”, mas em vez disso diz-me “Podes comer a minha bolacha! Eu não me importo.”
Sorrio, cheia de contente, há batalhas em que a vitória se pode celebrar apenas saboreando a última bolacha do pacote, enquanto se contempla, ainda que ao longe, o fim da adolescência e o início de uma nova fase, quem sabe menos explosiva de quem está a tirar a carta de condução, vai votar nas próximas eleições de junho (e lê os programas). 18 anos de primogénita, o tempo voou como em todas as viagens repletas de emoções, experiências, aprendizagens e vivências!

 

“(…) Naquele tempo, do braço engessado, acreditava que, se uma dia fosse mãe, lhe daria um nome de lugar. Lassa ou Cairo, se nascesse rapaz; Odessa ou Roma, se rapariga.
Trazer uma pessoa ao mundo deve ser como inaugurar uma capital ou descobrir uma floresta virgem. Todas as cidades ou florestas previamente visitadas devem significar pouco perante aquela nova topografia. Imagino que será necessário determinar cada costume de raiz. cada recinto ou cruzamento. Tornar-se mãe não andará longe de recomeçar a civilização.
Imagino.
Em viagem, cada pessoa junto de quem nos apeamos é um novo território, com as suas múltiplas atmosferas, fases férteis e de pousio que ciência nenhuma adivinha. A cada um a sua foma de chover, o seu jeito de dar fruto. Há gente que é à beira mar, de bom convívio, ou escarpada. De quando em quando, encontrar alguém com desertos dentro, com paisagens interiores absolutamente tropicais. Com sorte, perder-se nele.”
Joana Bertholo in “A História de Roma” – um livro surpreendente

Obrigado por nos darem tanto!

Uma música de reconhecimento e agradecimento e para nunca esquecermos como foi!

Um sinal para estarmos atentos ao presente e ao que um futuro bafiento poderá trazer (de volta)!
“Não podemos estar indiferentes aos problemas do nosso tempo. Às mágoas do nosso tempo.”
Garota Não in “Filhos da Madrugada” e letrista da música anterior

Um testemunho
“(…) Um dia, fiz uns bolos para mandar a uma tia, porque sabia que ela apreciava muito. Os bolos chamavam-se (e chamam-se) russos. Telefonei e disse-lhe “os russos já aí vão”! Pouco tempo depois, tinha à porta da rua uma data de polícias à minha espera, que me levaram para a esquadra. Lá estive horas e horas a ser interrogada, a responder a perguntas. ‘E onde é que estavam os russos, e com quem é que eles tinham vindo, como tinham passado a fronteira, e quem lhes tinha dado a minha morada’. Agora consigo rir-me, mas na altura não achei graça nenhuma. (…)
A minha filha nasceu em 1970 e eu lembro-me de a ir passear no carrinho com toda a papelada de propaganda que era preciso distribuir debaixo do pequeno colchão. Lembro-me de ver as pessoas quase sempre vestidas de escuro e de perceber que nenhuma mulher entrava sozinha num café.
Voltei para o Diário de Lisboa, onde a censura cortava ainda mais.
A PIDE cortava coisas perfeitamente incompreensíveis. Um exemplo: Quando Grace Kelly veio a Portugal, escrevi que era filha de um pedreiro. A censura cortou porque, evidentemente, uma princesa não podia ser filha de um pedreiro.
Quando chegou o 25 de Abril ninguém acreditava que fosse possível. Lembro-me de fugir para casa, convencida de que se tratava de um golpe comandado por Kaúlza de Arriaga, de que se estava à espera.
Quando cheguei a casa, o meu marido tranquilizou-me. O Kaúlza não tinha nada a ver com aquilo. Nasceu então um país novo, gente nova, trabalhos novos. Ou seja, nasceu a liberdade”

Alice Vieira in “Onde estava há 50 anos” uma variada e interessante coletânea de testemunhos publicados nos úlitmos no Diário de Notícias

Uma biografia

O nível do bicho!

“Dar de beber à desventura” assim se chama a música lançada em plena campanha eleitoral, a 29 de fevereiro, e que, nas palavras dos seus autores, é “um manifesto de repúdio ao partido de André Ventura“ pois “a classe artística tem o dever de se manifestar e sinalizar a deterioração do discurso público e político em Portugal“.

Pode-se gostar (ou não) do estilo, da música, da letra, dos interpretes, etc. mas a reação do bicho, não tardou, 2 dias depois, num comício na Figueira da Foz, encerrando em si toda a intolerância, discriminação e desrespeito pelo trabalho artístico e cultural que tanto o caracterizam, convém ouvir e reter porque o perigo está mesmo à espreita! No seu discurso, referindo-se ao nome do grupo musical afirmou “nós estamos a lutar contra tudo isto” e recorrendo à sua cassete habitual, mas como novos alvo  “esta meia dúzia de artistas, que estão contra nós, não são mais que os subsídio-dependentes do pós-25 de Abril que não trabalham e só sabem viver de subsídios do Estado”. Ódio destilado, mas impregnado!

Dentro da temática do já Chega, partilho uns excertos da minha leitura matinal – um artigo longo, mas interessante, no Público de hoje, intitulado  “Adivinhem quem veio jantar? Carta a uma filha que votou no Chega”

“Filho és, pai serás, e foi assim que fui sendo pai de seis sem nunca me meter muito no que pensam e em que acreditam, confio que a mão invisível (se é invisível, como sabemos que é uma mão?) os leve por caminhos que sejam os melhores para cada um. Sempre fui adepto da sua liberdade como pessoas, desde que saibam o que estão a fazer e queiram por eles o que estão a querer. Pode-se tudo menos ser do Benfica e levantar-se da mesa antes de a última pessoa acabar de comer. Por isso, quando uma das mais velhas, que é do Benfica, disse que ia votar no Chega, no meio do jantar de segunda-feira (os jantares de segunda, com eles todos, são cada vez mais jantares de primeira), optei por ficar calado, até porque os berros e os gestos raivosos da de 16, verdade seja dita, não davam espaço para muito mais.
(…)

Quando a minha filha de 21 anos me diz que pondera votar no Chega, não me chateia o que não percebo, o que me chateia é a parte que percebo (se calhar, pai também é pai).
(…)

Mas se não estava preparado para uma filha anunciar que votaria no Chega (não sei nem quero saber se votou ou não — para aqui não importa), também não estava preparado para ela estar preparada para responder às perguntas, que em linguagem “chegana” se faz por meio de perguntas. “Gostavas que uma filha tua fosse violada por um indiano e ele ficasse em Portugal depois de cumprir pena?”; “Achas normal que uma casa em Odivelas custe um milhão e meio de euros?”; “Não achas que os deputados do PS em vez de terem estado ocupados oito anos com a lei dos três nomes [presumo que seja o género neutro nos nomes], não deviam ter estado preocupados em fazer o aeroporto e assim já tínhamos um aeroporto, que é mais importante para o nosso país e as nossas empresas?”
(…)

Fiquei calado a maior parte do tempo. Também porque não é fácil combater um discurso que assenta na mistura de meias verdades com triplas mentiras. A argumentação racional não é possível, nem sei se desejável ou desejada. Precisamente porque se trata de desejo, e o desejo só muda com novos e melhores objetos de desejo e não com razões sobre o objeto amado. O voto no Chega não é só raiva, é também desejo. Se calhar, sobretudo desejo. E quanto mais tardarmos a reconhecer isso, mais continuaremos a ser Freud em Viena — já lá vamos. Ele, que tanto sabia sobre desejo, mas do outro; aparentemente, não tanto dos outros.
(…)
Ouvi no outro dia, num podcast, o Adam Philips sobre o seu livro On Giving Up em que falava do outro lado disto, que é não vermos o inimigo. Freud, cá está ele, foi visitado em Viena por um amigo em 1938 que lhe perguntou como estavam as coisas na Áustria com o inimigo. Freud terá respondido “qual inimigo?” e depois dito qualquer coisa sobre a Igreja Católica, que era para Freud o inimigo. O amigo falava naturalmente dos nazis. Freud teve de fugir de Viena poucos meses depois.
(…)
O Washington Post fala num “youthquake” por toda a Europa, com o voto jovem na extrema-direita, numa reportagem feita antes das eleições portuguesas, mas muito baseado na campanha do Chega (Rita Matias aparece em oito das dez fotografias da peça, caso ainda fossem precisos exemplos do magnetismo mediático do Chega e dos seus dois líderes). Rita Matias está entre um pequeníssimo lote de mulheres com reais possibilidades de ser primeira-ministra na próxima década. Escrever esta frase é tão surpreendente como seria não a escrever. Os eleitores que votarão pelas primeiras vezes daqui por uns (não muitos) anos já hoje a aplaudem nas escolas básicas e secundárias por esse país fora, consomem os seus tiktoks e não apostaria que alguém lhes resolva o problema da habitação em Odivelas ou em lado algum até 2030.
(…)

Mas, e a culpa? A culpa é minha? Freud, sabemos, diria que não, porque mãe é mãe. Mas Freud tem muito que se lhe diga. Nunca ter falado muito com eles de política partidária fez sentido? Foi a opção correta? Deveria ter sido mais presente na educação para a cidadania, mais (tele)jornais? (mais ainda, dirão eles)? Conversas mais sérias sobre os assuntos do mundo, como os pais dos outros (o arquétipo da perfeição)? Discursos pedagógicos sobre os cartazes dos partidos nas eleições? Em quase dois meses ainda não consegui que a AD deixasse de ser “o” AD. Nem responder (com a clareza necessária, porque a pergunta não para de voltar), sobre se o Iniciativa Liberal é de esquerda ou de direita.
(…)

“Mas, pai, se o Estado não tem empresas como ganha dinheiro?”, pergunta o mais político deles todos, do baixo dos seus 11 anos. O Estado tem o dinheiro dos impostos, e as empresas públicas normalmente dão prejuízo, como a TAP? “A TAP é do Estado!?”, espantou-se, que isto não se fala nas aulas de Cidadania. Se calhar, falhei mais do que achava umas linhas acima. Temos tempo. Mas tempo é sempre a única coisa que não temos. Os outros, as outras famílias, têm sempre mais tempo, mais conversas, menos piolhos. Nas outras famílias, nenhum filho vota Chega, tenho a certeza. Talvez só um primo afastado, daqueles do outro lado, mas já nem são família.

São sempre os outros, nunca são estes, nunca somos nós, é um viés cognitivo que o discurso extremista sabe que existe. (Quando me disseste, meu amor, que as pessoas não deviam poder viver de subsídios, deviam trabalhar, eu disse-te que havia pessoas que não conseguiam trabalhar, que estavam no lodo da miséria existencial, que não era uma questão de vontade, dei-te exemplos concretos de pessoas que conhecemos, lembras-te? Pensaste e respondeste: “Mas esses faz sentido receberem os subsídios, é para isso que pagamos impostos, os outros é que não. O Chega só quer acabar com esses subsídios, dos abusos, não os justos”) Nunca são estes, os nossos, os que cumprem, são sempre só os outros. Os outros, quem? Os outros. Nunca o outro.
(…)

Talvez os partidos nos extremos sempre tenham andado menos ligados à verdade. Talvez uma forma curta, jocosa, que tem quer ser apelativa, que concorra pela atenção das pessoas incentive o abuso do exagero. Uma certa comedização, uma atualização talvez do que a política noutras décadas e séculos teve. Pode tudo ser verdade e tudo ser mentira, mas os números estão lá. Os líderes da JS e da JSD têm cerca de 6000 seguidores no Instagram. Rita Matias, líder da Juventude do Chega, criada em 2021, tem 120 mil, 20 vezes mais (Montenegro, 20; Pedro Nuno, 25; Costa, ao fim de oito anos como primeiro-ministro, 136 mil; Ventura, 382 mil). Os números são números, e valem o que valem, já se sabe, e há seguidores comprados — tudo certo, mas um milhão de votos e forte penetração nos jovens não são fake news. (…)”
João Taborda Gama in Público

Princípio da Incerteza

Dentro da irracionalidade expectável, desconfio que os próximos tempos respeitarão um principio: o da incerteza.
Da interminável noite eleitoral, com emissão e comentários intermináveis e repetitivos, em que prevaleceu a a estupefação e a preocupação de que “PERDEMOS TODOS”, retive a frase de Pacheco Pereira:

“Condições de governabilidade do país às 2 da manhã. Para quem é que nós vamos falar? Para o vampiros, obviamente, que devem andar aí pelas esquinas e uma espécie de tifosi da política que veem tudo (…) Vamos lá ver o que que se pode dizer de diferente…” Pacheco Pereira

Gostava de dizer que foi uma noite eleitoral surpreendente, mas, infelizmente, não foi!
Estamos perante uma mudança de paradigma e o PS e PSD estiveram, até agora, adormecidos, seguros de si no ping pong usual,  acordaram tarde demais para a nova realidade que os rodeia e que não é de agora. Optaram por ignorar os sinais dos tempos e não só, convenceram-se que o pesadelo nunca se tornaria realidade, que seguiriam o rumo e alternância usual, sofreram um verdadeiro abalo e se não mudam de estratégias acabam engolidos (os velhos não duram para sempre).

O André Ventura não tendo palco no PSD, há anos, procurou uma alternativa para o seu percurso rumo ao estrelato, encontrou-a através da leitura do que se passava por essa Europa fora, nos EUA e à luz da sua tese de doutoramento, percebeu o “nicho de mercado eleitoral” por terras lusas, colocou os pés ao caminho e os resultados estão à vista, 48 deputados. É um populista extremamente inteligente, não tenho qualquer dúvida, é isso que faz dele um homem muitíssimo perigoso, uma ameaça a valores e direitos que até agora podíamos considerar nossos e inquestionáveis.
Comemoramos 50 anos da revolução dos cravos e, ironia das ironias, em abril de 2024, quase 50 deputados de extrema direita assumirão o seu assento parlamentar, deputados que põem em causa muitas das conquistas de abril.
Se é assustador? Muito.
Se é surpreendente? Não.
Quando se normaliza a corrupção, com casos, casinhos e casões, quando a justiça é lenta ou não funciona, quando se banaliza e não se dá importância ao sentir da população, quando se ignora as dificuldades dos mais frágeis e desfavorecidos em sobreviver face à inflação galopante entre outros, quando no ensino se promove a analfabetização funcional, mas com ótimas estatísticas de sucesso, quando, na segurança de uma maioria absoluta, se age com altivez, arrogância e muito showoff (nomeadamente das contas certas), mas não se resolve os problemas da população (baixos salários face ao custo de vida, falta de água no Algarve, os jovens portugueses e a emigração crescente, a habitação, o SNS, etc), como é óbvio e a história o demonstra, coisas “inesperadas” , mais tarde ou mais cedo, acontecem!
Uma vitória à tangente(?), se é que se lhe pode chamar vitória, inglória, triste e infinitamente pequena para a AD; uma enorme derrota. mas mais do que merecida, para o PS; e um inegável estrondoso triunfo para André Ventura. O Chega é o, e do, André Ventura, sem ele o partido não existe, por isso o mérito é todo dele e, em parte do PS e de Augusto Santos Silva que tanto o demonizaram, dando-lhe palco, nos últimos anos. André Ventura continua a desempenhar muito bem o papel que para si desenhou de forma a atingir os seus objetivos, que tem bem delineados desde o princípio dos princípios (não se deixem enganar).
Ao ouvir os alunos percebe-se que o Chega domina as e nas redes sociais, que é onde as pessoas desta faixa etária passam grande parte do seu tempo livre, onde se (des)informam e formam. Muito não fazem ideia do que é o programa do Chega mas conhecem o Ventura, são seus fãs, acreditam nele porque “Ele é que denuncia o que está mal, porque dá espetáculo, porque nunca se cala, porque ele é que vai endireitar isto, porque ele vai por esta gente toda na ordem”, muitos porque vivem em situações difíceis e ouvem e replicam o grito de revolta e indignação dos seus pais que não têm condições dignas de vida ou têm vidas muito difíceis/sofridas, e sentem que são invisíveis para os partidos habituais, mas Ventura dá-lhes uma voz amplificada, alimenta-lhes a esperança !

A preocupação não é só o Chega, há que fazer atenção à IL que é, só por si , também um fenómeno entre os jovens criados como, ou para serem, príncipes e princesas, autocentrados e empreendedores por natureza financiados pelo capital familiar. Em termos de políticas sociais, são pouco melhores que o Chega, a diferença é que são mais polidos e chiques, mantém o nível pois a etiqueta não lhes permite dizer tudo o que realmente pensam sobre questões sociais estruturais e fundamentais para todos os que não nasceram na realeza, poderem aspirar a ser realeza e não só a servi-la.

Com a menor taxa de abstenção desde 1995, nestas eleições houve mais 745 mil pessoas a ir às urnas do que em 2022 e o Chega teve mais 723 mil votos que nas últimas legislativas. Só no círculo de Bragança é que o Chega não elegeu nenhum deputado, numa nota positiva, apraz-me constatar que Bragança levou esta coisa de limpar Portugal a sério!

Avizinham-se tempos incertos e ainda mais difíceis!

Excertos de dois artigos interessantes que li esta semana:

“(…) A crise do capitalismo contemporâneo corre o risco de ser corrigida e modelada pela nova direita, nacionalista, protecionista, arrivista, securitária e racista. Sem um módico de prosperidade oferecido às classes baixas, aos que todos os dias lutam contra o custo de vida, as greves dos transportes, a falta de um emprego seguro, de uma casa ou de um consolo consumista, férias, restaurantes, carros, objetos vários, consolos de que os liberais não prescindem, a democracia está condenada a fenecer. (…)
Os políticos liberais não souberam enfrentar a crise do capitalismo liberal. Taxar decisivamente as tecnológicas resolveria muitos, mesmo muitos, problemas do subfinanciamento crónico do estado social. A Europa começou este caminho, mas desistiu de o trilhar, por pressão americana e globalista. Comemos subprime e austeridade até à capitulação, uma crise que não provocámos e cujo preço pagámos e continuamos a pagar. A Europa leu Thomas Piketty e pô-lo de lado, num estremeção de horror. E a nova direita aí está, chegou. Com insolência e condenada a crescer enquanto a política continuar a prometer à classe média o que não tem para dar. Dinheiro. Menos impostos. Um admirável mundo novo saído de um modelo envelhecido.(…)
Não se admirem se a extrema-direita for igualmente tribal, e punitiva, e imperiosa. Se for conservadora nos costumes. Como o PCP foi. A luta de classes não foi resolvida pela tecnologia e o estado de direito. Nunca será. Que resvale para o niilismo é o que se verá, seria uma consequência nietszchiana para a humanidade. Incrivelmente perigosa e distópica. Mas a tecnologia impõe o niilismo, a submissão e a anomia. Cria uma dependência. Uma subcultura alicerçada no imediatismo, no sensacionalismo e nas baixas paixões.
Mais do que combater a extrema-direita, há que combater este niilismo. Que a extrema-direita, no ímpeto revolucionário, organizador e orgânico, combate agora a seu modo, prometendo uma revolução.
Por isso é bem-sucedida.”
Clara Ferreira Alves in Expresso

“Portugal necessita de soluções importantes e duráveis. Precisa de estabilidade e força parlamentar. Exige um programa de investimento sem paralelo na história. Carece de um programa de defesa e segurança sem precedentes. Requer uma excepcional capacidade de junção de esforços e de convergência de forças sociais. A AD sozinha não consegue. O governo minoritário a mendigar apoios parlamentares e a aceitar chantagens não é boa solução. A coligação entre a AD e o Chega é muito capaz de tudo agravar. Só se vê uma solução. Difícil. Complicada. Complexa. Mas a única capaz de segurar o barco: o bloco central, a coligação, escrita, contratada, entre o PSD e o PS. Será que os seus líderes têm a grandeza suficiente? Será que já lhes ocorreu que a sua negativa será prejudicial a Portugal e, quem sabe, a eles próprios? Se não perceberem, teremos novas eleições a curto prazo, com mais problemas, em piores condições, com menos trunfos e mais dificuldades.”
António Barreto in Público

Pi

“Stôra, sabe que hoje é o dia do Pi?” pergunta-me, ao entrar na sala, uma aluna às 8 da manhã.
“Mais, não só é o dia do pi como o dia internacional da Matemática!” informei.
“Ahhh, isso não sabia!” responde-me a moça.
“Então como é que se lembrou que era dia do Pi?” perguntei curiosa.
“Não me lembrei! Apareceu-me no Tik Tok hoje quando acordei!” esclareceu-me a moça.
“As maravilhas do Tik Tok logo pela manhã. Então e porque é que é hoje o dia do Pi, alguém sabe? E o que é o Pi? O que representa?” questionei.
“Uiiii, isso já é querer saber demais!” responde um puto reguila.
“Não me digam que as respostas, a esta e a outras perguntas, não estavam no tal Tik Tok?” provoquei.
“STÔRA!!!!”responde-me a turma.
“Bem então vamos lá ver se vos consigo elucidar… e depois fazem vocês um Tik Tok sobre o Pi para esclarecer a malta que anda pelo Tik Tok!” acrescentei.
“STÔRAAAAAAAAAAA!” respondem-me indignados.
Foi assim que começou o meu dia de trabalho, de um modo totalmente irracional e em círculos, tenho cá para mim que é quase sempre assim, em honra do dia que hoje se assinala.
Para melhorar substancialmente este dia do Pi, só mesmo comemorá-lo com uma Pie!

Mulheres

No tempo do Vikings (século VIII ao XI), as mulheres podiam, em certas circunstâncias, pedir o divórcio e voltar a casar, podiam herdar de terras dos seus pais, maridos e filhos, podiam ser detentoras e administrar as suas propriedades, eram responsáveis pelas tarefas domésticas, os filhos e o gado, tinham um alimentação semelhante ao dos seus companheiros homens, podiam participar nas incursões, explorações e assentamento vikings, mas, regra geral, não participavam nas batalhas nem em transações comerciais.
O código de conduta e honra dos vikings garantia às mulheres alguma proteção: estava consignada o pagamento de uma espécie de indemnização à família de uma mulher desrespeitada em público, as agressões físicas eram condenadas e davam o direito à mulher de pedir o divórcio. Este direito não era aplicável em caso de ataques, pirataria e incursões de comércio relativamente às mulheres estrangeiras.
Longe de ser tratada como igual e de gozar do mesmo direito que os homens, é inegável que, já na era viking, o respeito pelos direitos/proteção das mulheres escandinavas era muito superior às das suas congéneres  do resto da Europa e do mundo. Uma tendência que se mantém até aos nossos dias, como mostra, ano após ano, o estudo, da OCDE, Global Gender Gap Report.

A igualdade de género tem um impacto positivo no crescimento e desenvolvimento económicos e é realçada como uma das principais razões pelas quais a Noruega, a Suécia e a Dinamarca são países prósperos e um exemplo para o Mundo em vários aspetos.
A equidade e justiça foi algo que me chamou a atenção na cultura, forma de estar e agir dos noruegueses e suecos, é algo de que se orgulham e que transparece e se sente. Por exemplo, têm há muitos anos algo que, por cá, começa agora a ser mais frequente, as casas de banho mistas (não são uma opção, são as que há).

(Fotos tiradas em agosto de 2023 na rua principal de Oslo, junto ao parlamento norueguês)

No regresso das férias de verão, 3 semanas a explorar a Dinamarca, Noruega e a Suécia, intrigada com a maneira de ser dos nórdicos, pesquisei e encontrei um blogue e depois um livro de uma francesa a viver na Noruega. Hilariante e extremamente elucidativo, uma leitura leve até no título “A frog in the fjord“. Para terem uma ideia e rirem um bocado recomendo alguns  post no seu blogue muito interessantes (um aperitivo para o seu livro) – “The joys of beinf a woman in Norway”“Norway, the Country where Men are Feminists. Even Footballers.” e “The Norwegian “Art” of Seduction”.
Uma curiosidade no feminino – o nome da marca de chocolates norueguesa mais conhecidas – Freia (desde 1889)- deriva do nome da deusa nórdica do amor e da fertilidade – Frøya. Estes chocolates são deliciosos e um bom souvenir, mas atenção que o seu preço varia muito (Rema 1000 e Kiwi, supermercados mais baratos, fora destes pode custar mais do dobro). O meu preferido é o de Daim (sim, não me escapou a ironia de que o Daim é sueco e sim, gulosos como somos, provámos vários sabores).

 

Portugal, na última década, denota uma evolução francamente positiva, segundo o Global Gender Gap Report, nas questões de igualdade de género mas ainda tem um longo caminho pela frente em vários aspetos, como se pode constatar no seu relatório de 2023.
O dia da mulher não é para comemorar com beijinhos, flores, discursos ou jantares fora, é um dia que assinala uma “luta” em curso há séculos e de séculos, uma luta na ação e de ação. As lutas não são fofinhas,  não se assinalam nem travam num dia, são desafios que se vivem diariamente, ontem, hoje e amanhã. Em 2024,  são 366 os  dias da mulher.

Por estes dias, li “Feminino singular”, Quino e a sua Mafalda nunca desiludem, são sempre uma boa e refrescante leitura.

Numa perspetiva feminina, li esta semana a  “A ridícula ideia de não voltar a ver-te” de Rosa Montero, um livro que resulta de um longo trabalho de pesquisa sobre a vida e obra de Marie Curie, a primeira mulher a ganhar o prémio Nobel e a única até hoje que ganhou dois em áreas diferentes. Não deixa de ser curioso que, até hoje, apenas 6% dos laureados com o prémio Nobel sejam mulheres.
Não é um livro sobre a morte nem o luto, apesar do título, e embora a autora o tenha escrito na sequência da morte do seu marido e se tenha inspirado no diário de Marie Curie, escrito no ano a seguir à morte do marido de Marie Curie.
É um livro que relata a dura e fascinante história de Marie Curie, numa perspetiva mais intima e não só enquanto cientista pioneira e à frente do seu tempo. É um livro que realça a importância do movimento feminista na busca de um mundo mais justo e melhor, e um tributo ao papel das mulheres que desbravaram esse caminho, sem serem devidamente reconhecidas, como Lise Meitner, Rosalind Franklin, Henrietta Swan Leavitt ou Jocelyn Bell –  cujo possível Nobel foi entregue a homens com quem trabalharam que, ou usurparam o seu trabalho ou nem sequer nomearam o seu nome e contributo ao receber o prémio.
É na sua essência, um livro sobre a força de superação de uma mulher (como filha, como estudante pobre, como esposa, como cientista, como mãe, na dor da perda, na doença, etc) numa época em que quase nada era permitido às mulheres e estas começaram a ocupar lugares onde nunca antes as mulheres tinham ousado pisar.

Manifesto

Uma imagem inspiradora e que contém em si muito do que defende o Manifesto pela Escola Pública assinado ontem, nesse lugar simbólico que é o Largo do Carmo, numa iniciativa da Missão Escola Pública – apartidária e sem ligação a qualquer sindicato – denominada “Antecipando Abril”.
Imperaram os cravos vermelhos nas lapelas, a tranquilidade, as caras conhecidas de outras “lutas” e um único diretor, que à beira de reforma, faz questão de dizer  sempre “Presente” – João Jaime – da secundária Camões.
Foi bonito, pá!
Voltar a colocar a educação na agenda política  por uma escola pública de qualidade e democrática (sem feudos ditatoriais de alguns diretores).
Marcaram presença e botaram discurso eleitoral Joana Mortágua (BE), Rui Tavares (Livre), um deputada do PSD em representação da AD e um representante do PAN. PCP, Chega e PS, apesar de convidados, não compareceram à “chamada”, só faz falta e a diferença quem está presente, é fácil perceber a ausência de cada um deles, embora por razões muito diferentes.
O mais sucinto, objetivo e aplaudido fui Rui Tavares, seguido de Joana Mortágua, a deputada do PSD foi a 1ª a discursar e a que falou mais tempo, mas também a menos aplaudida, o do PAN, não sei bem como classificar, fiquei com a impressão que não vivemos no mesmo país.
Ação que, à noite, marcou presença no concerto da Marisa Liz no coliseu com a presença da organização.


Espinhos

“Tens que ir buscar os meus livros!”
“Tens que ir tratar do meu passe.”
“Tens que ir à secretaria pedir a declaração de matrícula.”
“Tens que me ir levar à escola. Está frio, está a chover, está calor…”
“Tens que…” é assim que a pequenada atira e chuta para canto (que somos nós), sempre lhe que dá jeito ou não lhes apetece, cenas e coisas da sua responsabilidades e/ou do seu interesse.


A minha resposta ao “Tens que…” da pequenada é invariavelmente impiedosa e do género “Põe os pés ao caminho e trata da TUA vida, o interesse é teu.”.
Regra geral, não mexo uma palha nesse sentido, a não ser que verdadeiramente se justifique.
Excelentíssimo Esposo alinha mais com estes seus caprichos e eles, macacos como são, cobram-lhe precisamente isso, o que me deixa piursa!
“Tu não digas nada, eu estou a falar com o pai. Não vais à escola todos os dias? Não vês aquelas espécies que por lá andam? E ainda vens para aqui ralhar comigo?” disse-me pimpolha mais velha na sua tentativa mais recente de “ludibriar” Excelentíssimo Esposo.
“É exatamente por saber, mas não só, que a resposta é NÃO! A minha e a do pai!” respondi sem hesitações.
“Eh pá… não tens que ir para a escola?! Vai-te embora, isto é sempre melhor quando tu não estás em casa!” rematou pimpolha mais velha entrando no seu modo extremamente desagradável, ativado sempre que a coisa não funciona como ela quer.
“É, não é? Aguenta-te, é a vida e eu não vou a lado nenhum!” respondi calmamente.
“MORRE!” acrescenta pimpolha mais velha, como está na moda nos tik tok da vida e entre os jovens, expressão que os três aplicam sempre que a coisa destrambelha.
“É o que nos espera a todos, se for hoje ou amanhã que não te pese na consciência, mas tenho esperança de, quando isso acontecer, já não te fazer TANTA falta!” colmatei.
“ODEIO-TE!” diz-me pimpolha mais velha cheia de raiva.
“Também gosto muito de ti, por mim e por ti!” digo-lhe.
“GRRRRRR… tu só me estragas a vida!” acrescenta a moça.
“A vida, não! Os planos, os teus planos! São coisas diferentes, bem diferente, não te baralhes!” disse.
“Não se consegue conversar contigo! Tu és impossível!” conclui pimpolha mais velha.
“Sim, sim. Já me disseste… várias vezes!” observei.
“Vês? Vês, com tu és? E logo para a tua primogénita, a tua filha mais orientada!” diz pimpolha mais velha.
“A minha filha mais orientada na técnica do ser extremamente desagradável, mal educada, agressiva verbalmente e eximia na aplicação da arte da psicologia da “manipulação” de sentimentos, lá isso és sem dúvida!” respondi.
“Uma pessoa tem que tentar… às vezes, com o pai funciona! “confessa pimpolha mais velha.
“Não vale tudo neste teu “jogo”, como estou fartinha de te dizer! Há regras… de boa educação logo para começar.” informei.
“Hummm…!” respondeu pimpolha mais velha.

“Os filhos são a melhor coisa da mundo!” dizem.
Diria que tem dias, tem horas, tem alturas, com se pode observar pelo relato cru e duro, que deixa mossa em qualquer couraça mas frágil ou menos preparada.
Aí as maravilhas da maternidade… com um rebento a poucos meses de completar a maioridade, que apesar do seu ar doce e apaziguador, (que tem e é) quando a coisa não lhe corre de feição, como ela designou ou a mostarda lhe chega ao nariz, transforma-se em algo extremamente “feroz” e que não é de agora, aos 3 anos sentenciou-me “Tu és pior que a bruxa da Branca de Neve!” e, ao longo dos anos, foi-nos brindando com muitas variantes do mesmo, cada vez mais refinadas.
Há uns anos, ao contar algumas destas fases de fera a uma amiga minha, ela olhava-me incrédula dizendo “A tua filha? Que eu conheço desde sempre? Não posso! Ela é tão tranquila, não consigo imaginá-la nesse modo que descreves! Como é que aguentas? Se a minha filha me dissesse essas coisas, acho que desatava a chorar!”. Lembro-me com frequência desta nossa conversa e continuo a aplicar a mesma técnica que lhe revelei então “Ferida no seu orgulho procura fazer-me o mesmo… coração ao alto, alguma racionalidade e frieza e é ir levando a coisa, porque eles sabem apontar e espetar a faca no sítio certo! Não vacilar, firme e hirto que nem uma barra de ferro e tentar anular o seu ataque, é sempre a minha estratégia.”
É a vida a acontecer, nem tudo é um mar de rosas como nos fazem crer muitos relatos aqui e ali e as redes sociais.
Os filhos (como todos nós) trazem consigo muitos espinhos, o importante não é evitar ou ignorá-los, pois é inevitável que ao apreciar a beleza da rosa, sentir o seu cheiro e ao podá-la  nos piquemos, é natural. O importante é perceber que a picadela é superficial, às vezes, acidental, não deixa de magoar e/ou sangrar mas sara quase imediatamente, com um beijinho no dedo, a essência está em não deixar que a ferida chegue e se entranhe no coração, é ter consciência que faz parte do processo de crescimento (o deles e o nosso). O segredo está à, e na, superfície, não é isento de dor, mas não deixa cicatriz/ressentimento a não ser no orgulho de uns e outros!

Alturas

“Stôra, é giro, vê-la assim da nossa altura!” diz-me uma aluna durante uma visita de estudo.
“Como assim? Desde ontem, não cresci, quanto muito para os lados, nem diminui!” observei entre risos.
“Não é isso! É que normalmente, nas aulas, a professora está sempre de pé e nós estamos sentados!” esclarece-me a minha aluna.
“Ora aí está uma coisa em que nunca tinha pensado… no entanto, cruzamo-nos infinitas vezes nos corredores e à entrada da escola, sempre à mesma altura!” respondi espantada.
Ao contar esta conversa à pequenada da casa, antes de revelar a resposta da minha aluna, eles adivinharam-na e ainda acrescentaram “Como é que não pensaste logo nisso? É óbvio, todos os alunos sentem isso!”
O que eu fiquei a pensar foi, com o espírito de censura, cancelamento, igualdade de todo o tipo que impera e prolifera por aí, imagino que não tardará a todos podermos estar de pé nas aulas, à mesma altura, em alturas várias. Há alturas estranhas na nossa vida!!!

Janeiro

Janeiro é o mês mais comprido do ano, parece ter mais dias do que têm juntos os dois meses que lhe seguem.
É o primeiro mês do ano mas tem ares de fim de festa.
É um mês  de rescaldo e ressacado.
É um mês frio, não faltam massas polares e de tempestades várias.
É o mês de eleição das gripes.
O mês de janeiro trouxe-me tudo atrás mencionado e mais, muito mais.
Dormir e não fazer absolutamente nada, dentro do possível (com 3 filhos e trabalhando todos os dias) para curar uma gripe e uma tosse que não me deixavam desde dezembro. Resultou!
Por iniciativa de pimpolha mais velha, começámos a vender livros (e alguma roupa para pequenada) na Vinted. A minha biblioteca é vasta e o espaço é curto, custa mas resulta e o critério que usei para decidir quais ficam e quais vão obedece mais ou menos a estes parâmetros. Uma boa experiência e a continuar. “Destralhar” é a máxima, mas entretanto já comprei 2 livros na Vinted (eheheheh).
A minha avó fez 100 anos e contente da vida marcou o compasso, liderou a “orquestra” dos “Parabéns a vocês”, atirou beijinho e, no fim, bateu palmas. “Já passei muito! Muito trabalho, alguma fominha, pouco dinheirinho, tristezas e aflições, 8 operações de saúde…e esta coisa que não me deixa falar e agora ouço muito mal, cada vez pior! É  a vida, tudo se ajeita, tudo se faz, tudo se cria! Cá estou, cheguei aos 100!” disse-me no dia do seu centésimo aniversário, esta força da natureza, de determinação, teimosia e algum mau feitio. “Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar!” de Jorge Palma assenta-lhe que nem um luva e palmas para e por isso.
Fui ao teatro com os meus alunos ver Frei Luís de Sousa, ofereceram grande resistência à ideia mas, in loco, abraçaram e apreciaram a experiência, foram 5 *. Para muitos, esta é, infelizmente, a única forma de contacto com a “cultura”. De regresso à escola, um elogio por parte do delegado de turma: “A professora está de parabéns porque nunca desistiu de nós, mas basicamente porque se preocupa! Não é a nossa DT… mas é!”. Registar para mais tarde recordar!
Nos último 3 anos, passaram cá por casa quase meia dúzia de torradeiras umas mais xpto que outros, estragaram-nas ou estragaram-se todas. Aborreci-me e comprei uma vintage, parecido com a da minha avó, e que agora se chama multipan. “O quê? É preciso virar o pão e não desliga sozinha? Estás maluca?” reclama alto e bom som pequeno do meio. “A vida não digital é tramada, não é? Não sei como sobrevivemos!” observei , o que me valeu um valente revirar de olhos. Melhor compra que podia ter feito… e a metade do preço no Freeport!
“Gosto tanto de si” murmurou uma colega minha quando passámos pelo Henrique Sá Pessoa (em pessoa) em frente ao seu “Alma”, entrando rapidamente na porta ao lado “A vida portuguesa” (mais uma loja no Chiado que está prestes a fechar portas) evitando que a minha colega abalroa-se o famoso chefe. “Vocês são piores que os meus filhos… uma vez num elevador cruzei-me com o Rui Veloso e disse-lhe “Gosto tanto de si, cresci a ouvir as suas músicas! Chico fininho… e os meus filhos a taparem a cara de vergonha e a empurrarem-me do elevador para fora. Vocês ainda são novas, eu na minha idade já não tenho vergonha, posso dizer o que quiser!”  diz-me a minha colega. Pesou-me a consciência e disse “Anda, vamos ver se ele ainda lá está para falares com ele!” observei saindo da loja. “E tu também vens?” pergunta-me ela. “Nope, mas fico aqui à tua espera!”… O chefe já tinha abandonado. “Um oportunidade perdida, é agarrá-las logo quando elas aparecem!” diz-me a minha colega cheia de experiência.
Numa das noites mais frias de janeiro, para aquecer a alma, o estômago e tudo em geral, comi ramen de tofú na cantina mais in da capital, com um grupo de colegas amigas, rimo-nos à maluca com massa e caldo a escorrer pelo queixo. Depois de tanta galhofa, subimos ao Chiado em passo apressado, algumas com os bofes de fora, para chegar a tempo de nos deslumbrarmos com mais uma magnífica encenação e representação do Diogo Infante. “Eh pá. Tenho que te abraçar. Obrigada, obrigada pela tua iniciativa. Se não fosses tu, olha o que eu tinha perdido. Isto fazia-me mesmo falta! Desafia-nos mais vezes… muitas vezes!” disse-me uma colega no final da peça.
Constipei-me… apliquei o mesmo remédio. Dormir e não mexer uma palha, para além das estritamente necessárias (e são muitas). Voltou a resultar.
Toda ranhosa, cansada, entro na última aula do dia, observando “Vamos lá ver se sobrevivemos a isto!” observei. “Mais do que isso… pelo menos aqui não é só despejar matéria, um trabalho descontraído mas sério!”  diz-me um aluno. Guardei para mim… é capaz de ter sido dos mais simples, mais bonitos e sinceros elogios que recebi!
Pimpolha mais velha reclamou forte e feio porque só vou ao teatro com as minhas colegas blábláblá. Convidei a família para ir ver a peça “Livrar-me“. Excelentíssimo Esposo observou “Hummm…. tem mesmo ar de ser daquelas peças em que eu não vou perceber nada!”. É uma peça sobre o que representam os livros na vida de quem os aprecia e não passa sem eles, os compassos que estes marcam na nossa vida e o seu papel e importância, um diálogo entre uma mãe e uma filha e entre filhas e mães leitoras. Convenci pimpolha mais velha a acompanhar-me.  “Gostastes?” perguntei-lhe no final. “Sim, sim, mas agora tenho que pensar, não sei se percebi tudo!” informou-me pimpolha mais velha. Sorri pensando “Há livros… e peças que ficam connosco uns tempos, são de assimilação lenta!”. Foi bonito, pá.
Escrevi pouco ou nada mas dediquei-me ao meu hobbie preferido: ler. Li 7 livros, todos muitos bons e grandes. Excelentíssimo Esposo diz que li demais. “Demais” um conceito desconhecido para quem tem uma ou qualquer espécie de compulsão.
No dia de anos da minha avó, li de uma penada o mais pequenos de todos os que li em janeiro, “Última Solidão” da Carmen Garcia, histórias e mágoas de velhos contados por quem os vê e trata com um humanismo e profissionalismo invejável… e se revolta em cada linha contra o infantilizar dos velhos. Tem descrição cruas e duras do mundo do lares, mas personagens e histórias maravilhosas. Gostei e recomendo, mas eu sou suspeita para falar, leio e gosto das suas crónicas no Público, embora não me reveja em todas.
Janeiro –  mês longo, cheio de ranhosices , mas repleto de pequenas coisas maravilhosas.
Na linguagem dos instas da vida, acabei de fazer um janeiro dump, usando palavras em vez de imagens, ou seja “despejei” janeiro.

Bom ano de 2024!


Entrámos no novo ano a ver os fogos de artifícios. Sem champanhe nem passas porque ninguém aprecia e é uma mau princípio começar o ano a fazer um grande sacrifico apenas porque a tradição assim o manda!
Depois daquele abraço e os beijinhos do costume, celebrámos a chegada do novo ano com uns saborosos biscoitos da sorte (quando os partimos ao meio, têm um dizer).
“You are ready to fill your head with new ideas.” foi a frase que saiu no meu biscoito da sorte.
“Olha, olha o que me calhou! Preocupado?!” disse sorrindo para Excelentíssimo Esposo.
“Hummm… O quê? Mais bricolages?” responde-me ele.
“Good news, you backed the right horse.” foi a frase que calhou a pimpolha mais nova. “Vamos ganhar o EuroDreams” vaticinou a moça, colocando a sua frase na capa do telemóvel.
“Remarkable new experiences will contribute to your zest of life.” mensagem que calhou a pequeno do meio. O moço sorriu satisfeito como quem diz “Continuação de bom tempo no canal!”.
“Efforts for a special person are unexpectetedly rewarded.” missiva para Excelentíssimo Esposo. Fazer o bem sem olhar a quem e sem esperar retorno será sempre uma boa resolução de ano novo ou em qualquer outra altura!
“A flirt excites you.” foi a mensagem de pimpolha mais velha, a última a saborear o seu biscoito da sorte, bem depois das 12 badaladas que ao lê-la colocou o seu ar de perfeita “extremamente desagradável!” e revirou os olhos. “Eheheheheh, o que é que eu disse quando te dei o 1º beijinho e abraço de 2024? «Muitos abraços e beijinhos em 2024». Eu e os biscoitos da sorte estamos alinhados, tu é que não alinhas connosco!” observei perdida de riso para a minha primogénita – moça arisca e pouca dada a abraços e beijinhos.
“Acabaste de ganhar o primeiro, e muito perfeitinho, side eye do ano de pimpolha mais velha… e foi dos fortes” informou-me Excelentíssimo Esposo.
“Um 2º beijinho do ano para fazermos as “pazes”?!” sugeri a pimpolha mais velha.
“SAI! Não te ponhas com as tuas coisas! Deixa-me em paz.” responde-me pimpolha mais velha.
Resumindo, entrámos em 2024, como saímos de 2023, bem dispostos, sempre na parvoeira… entre abraços e beijinhos e side eyes!
Bom ano!