Mulheres

No tempo do Vikings (século VIII ao XI), as mulheres podiam, em certas circunstâncias, pedir o divórcio e voltar a casar, podiam herdar de terras dos seus pais, maridos e filhos, podiam ser detentoras e administrar as suas propriedades, eram responsáveis pelas tarefas domésticas, os filhos e o gado, tinham um alimentação semelhante ao dos seus companheiros homens, podiam participar nas incursões, explorações e assentamento vikings, mas, regra geral, não participavam nas batalhas nem em transações comerciais.
O código de conduta e honra dos vikings garantia às mulheres alguma proteção: estava consignada o pagamento de uma espécie de indemnização à família de uma mulher desrespeitada em público, as agressões físicas eram condenadas e davam o direito à mulher de pedir o divórcio. Este direito não era aplicável em caso de ataques, pirataria e incursões de comércio relativamente às mulheres estrangeiras.
Longe de ser tratada como igual e de gozar do mesmo direito que os homens, é inegável que, já na era viking, o respeito pelos direitos/proteção das mulheres escandinavas era muito superior às das suas congéneres  do resto da Europa e do mundo. Uma tendência que se mantém até aos nossos dias, como mostra, ano após ano, o estudo, da OCDE, Global Gender Gap Report.

A igualdade de género tem um impacto positivo no crescimento e desenvolvimento económicos e é realçada como uma das principais razões pelas quais a Noruega, a Suécia e a Dinamarca são países prósperos e um exemplo para o Mundo em vários aspetos.
A equidade e justiça foi algo que me chamou a atenção na cultura, forma de estar e agir dos noruegueses e suecos, é algo de que se orgulham e que transparece e se sente. Por exemplo, têm há muitos anos algo que, por cá, começa agora a ser mais frequente, as casas de banho mistas (não são uma opção, são as que há).

(Fotos tiradas em agosto de 2023 na rua principal de Oslo, junto ao parlamento norueguês)

No regresso das férias de verão, 3 semanas a explorar a Dinamarca, Noruega e a Suécia, intrigada com a maneira de ser dos nórdicos, pesquisei e encontrei um blogue e depois um livro de uma francesa a viver na Noruega. Hilariante e extremamente elucidativo, uma leitura leve até no título “A frog in the fjord“. Para terem uma ideia e rirem um bocado recomendo alguns  post no seu blogue muito interessantes (um aperitivo para o seu livro) – “The joys of beinf a woman in Norway”“Norway, the Country where Men are Feminists. Even Footballers.” e “The Norwegian “Art” of Seduction”.
Uma curiosidade no feminino – o nome da marca de chocolates norueguesa mais conhecidas – Freia (desde 1889)- deriva do nome da deusa nórdica do amor e da fertilidade – Frøya. Estes chocolates são deliciosos e um bom souvenir, mas atenção que o seu preço varia muito (Rema 1000 e Kiwi, supermercados mais baratos, fora destes pode custar mais do dobro). O meu preferido é o de Daim (sim, não me escapou a ironia de que o Daim é sueco e sim, gulosos como somos, provámos vários sabores).

 

Portugal, na última década, denota uma evolução francamente positiva, segundo o Global Gender Gap Report, nas questões de igualdade de género mas ainda tem um longo caminho pela frente em vários aspetos, como se pode constatar no seu relatório de 2023.
O dia da mulher não é para comemorar com beijinhos, flores, discursos ou jantares fora, é um dia que assinala uma “luta” em curso há séculos e de séculos, uma luta na ação e de ação. As lutas não são fofinhas,  não se assinalam nem travam num dia, são desafios que se vivem diariamente, ontem, hoje e amanhã. Em 2024,  são 366 os  dias da mulher.

Por estes dias, li “Feminino singular”, Quino e a sua Mafalda nunca desiludem, são sempre uma boa e refrescante leitura.

Numa perspetiva feminina, li esta semana a  “A ridícula ideia de não voltar a ver-te” de Rosa Montero, um livro que resulta de um longo trabalho de pesquisa sobre a vida e obra de Marie Curie, a primeira mulher a ganhar o prémio Nobel e a única até hoje que ganhou dois em áreas diferentes. Não deixa de ser curioso que, até hoje, apenas 6% dos laureados com o prémio Nobel sejam mulheres.
Não é um livro sobre a morte nem o luto, apesar do título, e embora a autora o tenha escrito na sequência da morte do seu marido e se tenha inspirado no diário de Marie Curie, escrito no ano a seguir à morte do marido de Marie Curie.
É um livro que relata a dura e fascinante história de Marie Curie, numa perspetiva mais intima e não só enquanto cientista pioneira e à frente do seu tempo. É um livro que realça a importância do movimento feminista na busca de um mundo mais justo e melhor, e um tributo ao papel das mulheres que desbravaram esse caminho, sem serem devidamente reconhecidas, como Lise Meitner, Rosalind Franklin, Henrietta Swan Leavitt ou Jocelyn Bell –  cujo possível Nobel foi entregue a homens com quem trabalharam que, ou usurparam o seu trabalho ou nem sequer nomearam o seu nome e contributo ao receber o prémio.
É na sua essência, um livro sobre a força de superação de uma mulher (como filha, como estudante pobre, como esposa, como cientista, como mãe, na dor da perda, na doença, etc) numa época em que quase nada era permitido às mulheres e estas começaram a ocupar lugares onde nunca antes as mulheres tinham ousado pisar.

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